O projeto


O Projeto aqui apresentado desenvolveu ações que contribuíram para a promoção e a difusão da literatura na Região Norte do País, mais especificamente em comunidades urbanas e indígenas do Território da Cidadania Raposa Serra do Sol e São Marcos / RR, e comunidades urbanas e ribeirinhas do Território da Cidadania Baixo Amazonas / AM e PA. 

Existem alguns fios condutores deste projeto, dos quais podemos citar as obras modernistas Macunaíma, de Mário de Andrade, e Cobra Norato, de Raul Bopp, publicadas em 1928 e 1931, respectivamente. Leituras “obrigatórias” durante o ensino médio escolar, os textos foram responsáveis pela difusão da cultura e da mitologia amazônica para o restante do país. Os municípios escolhidos para o desenvolvimento deste projeto mantém íntima relação com estes dois textos, não apenas por serem localizados na região amazônica, mas por serem habitados por populações detentoras desta mitologia original, para as quais o mito é ainda mais presente do que a literatura.

A partir das experiências literárias vivenciadas na região sudeste, em Minas Gerais, e na sua capital, Belo Horizonte, e mais recentemente no Estado de Roraima, propomos a releitura destes mitos, atuando sob a influência tanto do regionalismo amazônico, quanto do universalismo presente neste mesmo território. Desvendar o mito - 90 anos depois da Semana de Arte Moderna - a partir da perspectiva indígena e ribeirinha, possibilitando, ao mesmo tempo, que estas comunidades possam contar suas próprias versões de suas histórias.

As referências à Macunaíma encontramos no extremo norte do país, Estado de Roraima, nos municípios de Pacaraima e Uiramutã, onde os indígenas (Macuxis, Ingarikós, Ye’kuanas e Taurepang) reconhecem a figura mítica de Macunaima, herói ou Deus, que andando pela região do Monte Roraima, foi vivendo aventuras e dando forma ao mundo conhecido. No rastro de Cobra Norato encontramos as comunidades ribeirinhas e urbanas de Parintins / AM e Santarém / PA, cidades às margens da maior Boiúna do Brasil, o rio Amazonas.

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente[1]. Nasceu às margens do Rio Cotingo, ao sopé do Tepuy Roraima, como contam os Macuxi, os Ye’kuna, os Ingarikó e os Taurepang – pemons e kapons acessados por volta de 1911 a 1913, pelo etnólogo Koch Grünberg, que em sua passagem pelo Vale do Rio Branco recolheu as fantásticas narrativas desse herói – Macunaima - responsável por espalhar todas as frutas conhecidas, desde o Monte Roraima, até as florestas e lavrados desse território. Mário de Andrade, em contato com tão precioso e inédito material, operou o ofício dos poetas, forjando, liricamente, o herói nacional, Macunaíma, filho das três raças, “síntese” de Brasil.

Também da etnografia, mais precisamente dos escritos de Antônio Brandão Amorim[2], Raul Bopp tomou inspiração para a composição de Cobra Norato[3]. Durante as cheias o rio-cobra se ramifica, engrossa águas. O mito da Mboiuna - Cobra Preta – e Mboi-açu – Cobra Grande - desce pelos lavrados de Roraima, do Uraricoera ao Branco, afluente do Rio Negro. Estas águas alcançam o Amazonas, a água maior. Lá encontramos as cidades de Parintins / AM e Sanntarém / PA, que possuem referências aos mitos de cobras grandes, de botos e iaras, seres da água, imersos nesta estrada/rio que é o Amazonas. Esta região é o centro vital da Amazônia brasileira. Localizada entre Belém e Manaus recebe influências nacionais e internacionais, tradicionais e globalizadas, e convive com um intenso trânsito fluvial entres culturas. Acreditamos que nestas localidades o processo antropofágico está acontecendo, o que pode ser comprovado pela vitalidade do Festival Folclórico de Parintins, onde tradição e contemporaneidade se reconfiguram, se fundem. Essa dualidade torna o trabalho nestes dois municípios tão interessante. É a possibilidade de misturar literatura e as artes contemporâneas e de criar relação com grupos que utilizam os recursos tecnológico-digitais, resignificando as tradições.

Circulação Literária


PACARAIMA / RR

No mês de setembro / 2013 foram desenvolvidas atividades em comunidades urbanas e indígenas do município de Pacaraima, Estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela. Trata-se de população predominantemente indígena, mesmo aqueles presentes nas vilas urbanas sedes dos referidos municípios. Levando-se em conta os indicadores socioeconômicos diríamos se tratar de pessoas pobres, mas que possuem a riqueza da terra preservada. O público atendido foi em sua maioria crianças e jovens (que cursam o ensino fundamental ou médio) dos municípios, havendo também participação do público adulto, em sua maioria educadores, que acompanharam as crianças nas atividades ou que participaram da oficina lúdica para mediadores de leitura. Este público adulto, em sua maioria, possuía o ensino superior ou o estavam cursando.







Em Pacaraima foram desenvolvidas as seguintes atividades:


02 oficinas lúdicas com crianças - Jogos literários com crianças participantes do Projeto de Letramento Guariba. São crianças das escolas das comunidades que possuem defasagem de leitura e são atendidas pelo projeto desenvolvido pela Universidade Estadual de Roraima – UERR.


06 apresentações teatrais – Tem muita pimenta na serra - Na Escola Municipal Casimiro de Abreu (manhã e tarde), na Escola Estadual Cícero Viera Neto (manhã e tarde), na Escola Estadual Indígena Sorocaima II e no Festival Reggae Rock.


01 oficina para educadores - Oficina de mediação de leitura – 08 horas/aulas.


02 performances poéticas, na UERR Campus Pacaraima.


01 sarau literário - Na inauguração da Biblioteca Pública Municipal de Pacaraima.


Doação de livros - Para a Biblioteca Pública Municipal de Pacaraima gerida pela UERR.

UIRAMUTÃ / RR

No mês de outubro / 2013 foram desenvolvidas atividades no município de Uiramutã, extremo-norte do país. O município de Uiramutã, além de ser o mais setentrional do Brasil é ainda aquele que apresenta o maior percentual de população indígena. A sede municipal está localizada no coração da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, de forma que pudemos vivenciar diversos conflitos relacionados à política indigenista brasileira e à demarcação do território. 






Em Uiramutã foram desenvolvidas as seguintes atividades:

02 oficinas lúdicas com crianças - Brinquedos e Brincadeiras e Jogos Literários com as crianças na Escola Municipal Indígena Júlio Pereira e na Escola Municipal Antônio Rodrigues.


02 apresentações teatrais – Tem muita pimenta na serra - Na Escola Municipal Indígena Júlio Pereira e na Escola Municipal Antônio Rodrigues.


Doação de livros - Para a Biblioteca Pública Municipal de Uiramutã e para o Cantinho de Leitura da Escola Estadual Joaquim Nabuco.


PARINTINS / AM 


As ações foram desenvolvidas junto a população urbana e ribeirinha do município. Parintins é um município cheio de contrastes, a começar pela sede urbana, dividida em duas cores, vermelho e azul, dois lados, dois bois que há cem anos começaram a construir a tradição do Festival de Parintins. Também grandes contrastes sociais: quando atravessa-se a Ponte vemos sumir a Parintins dos lidos murais e ruas bem conservadas para surgir uma cidade de barracos de madeira e palha, onde há forte presença indígena. E para além da cidade, há um vasto município formado por diversas comunidades ribeirinhas e indígenas, que mantém forte o contato com a floreta e com os rios. Na sede municipal o público participante foi bem variado, entre crianças, jovens e adultos. O público adulto constituiu de educadores na rede municipal de ensino, e alunos e professores da Universidade Federal do Amazonas. O público jovem participou das oficinas de iniciação teatral – leitura dramática, e as crianças foram contempladas através das apresentações do teatro de rua “Tem muita pimenta na serra”. A peça também foi apresentada na comunidade ribeirinha Vila Amazônia, para crianças, jovens e adultos ligados à Biblioteca Municipal, ao CRAS, e às escolas da comunidade, integrando uma programação de aniversário da Biblioteca da Vila.










No município foram realizadas as seguintes atividades:

02 apresentações teatrais – Tem muita pimenta na serra – No Ponto de Cultura Tradição de Lindolfo na sede municipal; e na programação de aniversário da Biblioteca Ler é Preciso na Vila Amazônia.


01 oficina para educadores - Oficina de mediação de leitura – 16 horas/aulas na Biblioteca Municipal Tonzinho Sounier.


02 oficinas com foco na literatura – no centro cultural Amazonino Mendes – Bumbódromo.


02 performances poéticas, na Semana de Artes Visuais da Universidade Federal do Amazonas - Campus Parintins.


01 palestra – Na Semana de Artes Visuais da UFAM Parintins.


Doação de livros - Para a Biblioteca Pública Ler é Preciso, da Vila Amazônia.


SANTARÉM / PA 

As atividades foram desenvolvidas junto à população ribeirinha e indígena do município. Foram desenvolvidas atividades na comunidade ribeirinha do Curi e na comunidade do Caranazal. O Curi é uma comunidade situada no rio Arapiuns, afluente do rio Tapajós, há várias horas de barco da sede municipal. Trata-se de uma população que vive basicamente da pesca e da produção do açaí. O principal problema da comunidade é o acesso, feito exclusivamente via barco, o que dificulta muita que atividades culturais e artísticas cheguem à região. Trabalhamos junto à escola da comunidade (Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima), que possui ensino fundamental, médio e EJA. Dessa forma atingimos um público amplo, de crianças, jovens, adultos e educadores. A comunidade do Caranazal possui como principal característica a remanescência indígena. Nesta comunidade trabalhamos junto à Escola do Campo Irmã Dorothy, e atingimos um público de crianças, jovens e educadores.










Foram realizadas as seguintes atividades:

02 apresentações teatrais – Tem muita pimenta na serra – Na comunidade ribeirinha do Curi (Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima) e na comunidade remanescente indígena do Caranazal (Escola do Campo Irmã Dorothy).


02 oficinas lúdicas com crianças - Brinquedos e Brincadeiras e Jogos Literários com as crianças na Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima e Escola do Campo Irmã Dorothy.


[1] Mário de Andrade – Macunaíma.
[2] Lendas em Nheengatu e Português, publicado em 1928.
[3] Durante muito tempo trabalhei com esse texto, recontando-o através da contação de histórias e do teatro de bonecos.

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